Resistência, a própria pronuncia da palavra arrasta, é prolongada…
Não quero generalizar, porque sei que não se aplica a todos os seres humanos, mas estou convencida que uma parte significativa de nós humanos temos dois conceitos a pairar constantemente em cima da nossa cabeça: Resistência, e Necessidade de Controlo…
Pois é, muitos de nós, estamos aqui neste lugar que se chama resistência e controlo, mesmo aqueles que se dizem buscadores espirituais, mas que na verdade vivem completamente reféns de um ego maior que se sobrepôs ao que já existia.
Esse ego está constantemente a dialogar connosco, a pedir-nos para ser coisas, para fazer coisas, a cobrar coisas, e depois como não fazemos, nem somos o que ele nos diz, ficamos frustrados, enraivecidos, irritados, ansiosos, com uma ânsia aqui dentro que apetece sair à chapada ao primeiro que aparece…
E depois disto, sim não acaba aqui, não não, a seguir a isto vem a nossa querida culpa, autocrítica, punição, sentimento de que não somos merecedores de coisa nenhuma, somos uns ingratos que para aqui andam, chegamos até a pensar que não sabemos bem como é que nos aguentam, como é que o marido ou a esposa nos aguenta, com este mau feitio, com estas oscilações parvas de humor, ora está “vai correr tudo bem”, ora “porra para isto tudo”.
Depois ainda existem outros cenários paralelos a esta novela, os filhos, esses como não têm quem assuma a liderança da matilha, vão reagindo ao que lhes é proposto, à mínima situação, irritam-se, provocam, batem-se, exigem, etc, as horas passam e o caos adensa-se, as sestas que outrora eram certinhas, descarrilam completamente num túnel sem fim a vista, e mais uma vez o humano que se acha iluminado, e extremamente consciente, o que faz?! Pára, respira, observa, aceita…Claro que não, o humano iluminado (por luz incandescente artificial, só pode), grita, berra, invade, desrespeita, solta uma palmada, e resiste, resiste, achando que o caos está na sua vida porque devia de controlar melhor as tarefas, as rotinas, as refeições, os horários, e não é isso que está a acontecer…
Que estupidez, é nesta parte que o grito “CHEEEEGGGAAAA”, sai da garganta, é nesta parte que finalmente se respira, se observa, se permite sentir a raiva, a frustração, a irritação, a culpa, o descontrolo, a agonia, e aceita-se que SIM eu também sou isto, SIM eu vejo-te, eu vejo que estás aí, eu também estou aqui, SIM eu aceito, e volto a respirar, e se mesmo no fim deste exercício ainda não souber o que fazer, ou o que não fazer, então não faças nada…
Escuta apenas, respira quantas vezes for preciso, e observa que por detrás de um grito, ou de uma birra, está uma carência de colo, de beijo, de eu gosto de ti, és importante para mim. Por detrás de uma sesta que não vem, está um deslarga, solta, hoje é assim, amanhã veremos como vai ser. Por detrás de uma ansiedade, há um marido que te espera porque não se relaciona profundamente contigo à tempo infinito.
Sentir (o turbilhão de emoções), escutar (os sinais que o santinho lá de cima manda vezes sem conta), observar (como se estivesses a ver o filme da tua vida), é o chamado Maior desta quarentena forçada. Quanto tempo mais vamos resistir a viver, a respirar, a sentir, a fazer o que amamos, e a fazer os que amamos felizes e sentirem-se bem por estarmos aqui, juntos, saudáveis, alimentados, e hidratados?!
Inspiro eu acalmo o meu corpo
Expiro sou feliz…
Com amor…
Tânia Lopes